A pandemia de bons propósitos.

O Brasil passa por uma das maiores (ou talvez a maior) crise de sua história. Muitos tentam compará-la à pandemia da gripe espanhola que matou milhares de pessoas, mas, segundo relato do jornalista e escritor Ruy Castro em seu livro Metrópole à Beira Mar, a gripe arrefeceu seus efeitos em novembro de 1918 e, logo em janeiro (muito antes do dia 1º de março, data oficial da abertura do Carnaval) as folias de Momo se iniciaram e continuaram por mais de dois meses. Segundo ele, foi um dos maiores carnavais da época no Rio de Janeiro.

A realidade de hoje é muito diferente. O país se expandiu para o interior, os mercados cresceram, a economia de mercado passou a ditar o modo de vida e o comportamento das pessoas.

Por seu turno, a evolução tecnológica trouxe, no bojo das maravilhas sequer imaginadas em 1918, uma interdependência entre os vários segmentos do mercado e o surgimento de muitas novas atividades diretamente relacionadas ao convívio social.

Bem, tudo isso foi dito apenas para enfatizar que a pandemia e seu decorrente isolamento social, sem data para encerrar, trouxe e ainda trará consequências econômicas devastadoras. Exceto por algumas empresas cuja atividade foi classificada como essencial, mas que carecem de clientes, todo o resto está fechado. A volta à “normalidade” antes da existência de uma vacina ou de um remédio terá que se submeter a tantos protocolos que, se não inviabilizarem certas atividades as tornarão difíceis e muito onerosas.

Certamente “pegas de surpresa”, apesar da ação mortal do vírus na Europa e Ásia desde o final de 2019, as autoridades brasileiras, atônitas, mas sedentas de ganhos políticos, logo após a decretação de pandemia pela OMS, adotaram um critério de isolamento social sem maior planejamento ou visão de futuro. Cada qual querendo ser o protagonista da salvação de vidas, o que se viu foi uma sucessão de medidas cujos contornos políticos eram evidentes, mas que a resultado econômico e social eram notoriamente desastrosos.

Gabinetes de crise, coletivas diárias, propaganda e toda a forma de passar para a população o clima de gravidade serviram ao propósito de tomar das ruas todo o movimento que, apesar de perigoso e, eventualmente fatal, é o fio condutor da vida das pessoas;  o reflexo disso virá à tona tão logo a retomada gradual comece a ser implantada.

Sem dúvida, não advogo a ideia de muitos de que não se deveria ter procedido ao isolamento social, afinal o inimigo é desconhecido apesar, reitero, que sua ação na China já vinha sendo noticiada há vários meses mas que, apesar disso, o Brasil comemorou o carnaval como se nada estivesse acontecendo. Porém, a medida extrema do isolamento, como infelizmente tudo no Brasil, foi extemporânea e veio sem nenhum planejamento de como entrar e, principalmente quando e como sair dela.

Bem, sem me imiscuir em assuntos médicos e científicos, quando alguém acordou lembrando que o vírus mata, mas o desemprego e a fome também matam, as autoridades começaram a tomar medidas sem qualquer horizonte além de suas mesas. Auxílios de várias naturezas por 60 ou 90 dias sem verificar que, na Europa o isolamento demorou mais tempo que isso. O que vemos agora em que, segundo a métrica dos governos estaduais e municipais será possível iniciar a retomada das atividades econômicas (em que pese estarmos a cada dia batendo recordes de mortes, também segundo uma métrica que só eles conhecem) vemos que todos os paliativos concedidos no início do isolamento somente postergaram a falência de empresas e empregos.

Todos os recursos colocados pelos governos para o socorro às micro e pequenas empresas praticamente não chegaram ao fim da linha. Apesar de serem recursos públicos foram administrados pelos bancos que impuseram suas regras normais para concessão. Os critérios adotados pelos bancos não tiveram nenhuma relação com a grave crise econômica que a pandemia e o consequente isolamento social promoveram.

Além disso, os empréstimos para folha de pagamento e as flexibilizações trabalhistas não observaram um horizonte correto. Todas essas medidas se encerrarão nos próximos dias sem que a atividade econômica tenha retomado, ainda que paulatinamente, seu curso normal; as consequências são obvias!

Por fim, chego à conclusão evidente de que o Brasil não tem e nunca terá um plano de contingências que lhe permita passar por turbulências pois todas as ações e discursos vistos em todos os momentos de crise e, notadamente neste, têm natureza e objetivos políticos e eleitoreiros.

Boa sorte a todos nós empreendedores que, apenas com nosso esforço, passaremos por essa crise.

Sérgio Jacomini é graduado em Ciências Contábeis com MBA em Planejamento Estratégico, Marketing e Banking. Atualmente é Diretor Geral da empresa Blue Gate Company Turismo Ltda,

 

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